O feminismo e o Estado, uma questão à parte.

Bases teóricas do feminismo libertário na Argentina.

Resumo

Diante de um governo que se declarou contra os slogans do movimento feminista argentino e avançou no desmantelamento das políticas de gênero, chama a atenção a existência de uma militância feminista que, por sua vez, apoia o primeiro governo libertário argentino. Este artigo investiga - com base em uma análise de suas redes sociais - as características, origens, princípios, atividades e slogans do Mujeres por la Libertad, um grupo feminista libertário que apareceu na esfera pública em 2022. Fazendo alusão ao feminismo liberal da primeira onda e à igualdade perante a lei, elas se apresentam como oposição ao “feminismo hegemônico”. A compreensão de suas particularidades, bem como das bases teóricas que as sustentam, nos permite entender a aparente contradição entre suas duas afiliações militantes, bem como compreender suas expectativas em relação ao governo e ao Estado como um todo. A análise de seus slogans em torno dos conceitos de violência, Estado e indivíduo alerta para um divórcio subjacente entre a agenda feminista e a política pública. Essa agenda está centrada na demanda por autodefesa em face da violência física contra as mulheres. A violência é rejeitada em todas as suas formas, apagando assim a especificidade da noção de violência baseada no gênero; o Estado deve se limitar a uma função de segurança, no sentido liberal tradicional.