Sobre a Revista
Editorxs
Carina Jofré, Cristóbal Gnecco, Mario Rufer
Memorias Disidentes (ISSN 3008-7716) é uma revista de livre acesso à publicações gratuitas de qualidade acadêmica, científica e artístico-criativa. É uma publicação online semestral, com duas edições por ano (dezembro/janeiro - junho/julho). A revista foi lançada em dezembro de 2023 com o apoio das seguintes universidades: Universidade Nacional de San Juan (Argentina), Universidade do Cauca (Colômbia), Universidade Autônoma Metropolitana-Xochimilco (México), e Universidade Nacional de Catamarca (Argentina).
O projeto editorial da revista nasceu entre 2020-2022 dentro da RIDAP (Rede de Informação e Discussão sobre Arqueologia e Patrimônio), um coletivo de análise crítica formado por pesquisadores, ativistas, povos indígenas, membrxs de organizações e movimentos sociais e grupos de trabalho interessados em desmontar os imaginários modernos que constroem a relação patrimônio + cultura + identidade + memória + territórios.
Memórias Dissidentes declara que todos os conteúdos publicados são avaliados com qualidade acadêmica e revisados para detecção de plágio. Os conteúdos publicados respeitam os direitos de propriedade intelectual de terceiros. A revista mantêm seu compromisso com as políticas de Acesso Aberto à informação científica, considerando que tanto as publicações científicas como as investigações financiadas com fundos públicos devem ser circulares na Internet de forma livre, gratuita e sem restrições. A revista não cobra nenhuma tarifa para os autores da publicação de artigos. O acesso a todo o seu conteúdo na versão eletrônica é gratuito e sem embargos. Portanto, todo o conteúdo da revista é de acesso gratuito e as publicações estão sob uma licença Creative Commons Reconocimiento-NoComercial-CompartirIgual 4.0.
Princípios da revista
As narrativas patrimoniais na América Latina acompanham uma série extensa de políticas que utilizam um vocabulário variado sobre o resgate, a conservação, a valorização e a socialização do patrimônio. Essas narrativas foram codificadas em linguagens disciplinares com notável legitimidade: antropologia, arqueologia, história e sociologia, entre outras, participam do espectro patrimonial com tons diversos. A proposta editorial da revista parte da necessidade de questionar a aparente neutralidade dessas narrativas e propõe o campo patrimonial como o que Michel Foucault chamou de "poliedro da inteligibilidade": não como um conceito óbvio, mas como um problema que exige desvendar os eixos de conhecimento, poder, autoridade e diferenciação que suas linguagens possibilitam. Por que os poderes estabelecidos demonstraram tanto interesse em narrativas de patrimônio nas últimas décadas? Quais são as possíveis relações entre o campo do patrimônio e a economia política do mundo contemporâneo? Como as linguagens patrimoniais (visuais, sonoras, disciplinares, artísticas, poéticas e corporais) participam de forma tensa e muitas vezes contraditória na formação de nossas modernidades vernáculas? Como as abordagens disruptivas do feminismo ajudam a reimaginar corpos, sujeitos, formas de extração e acumulação no campo do patrimônio?
O patrimônio é geralmente proposto, pelos poderes do Estado ou por agências culturais nacionais e transnacionais, como um campo de consolidação identitária que estabiliza o valor semiótico do “comum” em classificações como objetos culturais tangíveis, cultura material, expressões intangíveis, etc. Como podemos abordar este campo se consideramos a relação entre patrimônio, arquivo e memória, e esta última como uma oportunidade de romper com as linguagens estabilizadoras da história? Como podemos fazer isso se propomos o “valor do comum” como um campo de disputa constituído pela carência, pela desigualdade, pela violência colonial que se perpetua e pelas exclusões que se reencenam?
Nesta época parece necessário destrinchar a trama que vincula a fixação e consolidação de patrimônios instituídos com processos extrativistas e de acumulação constante, bem como com figuras e linguagens de resistência, recomposição da memória e oportunidades de pensamentos constituintes e insurgentes. Esse ato de desvendar nos confronta com desafios notáveis em termos de linguagem, método e construção teórica: eles exigem imaginações de montagem (em vez de narrativas lineares que se misturam às políticas estatais), linguagens críticas da colonialidade moderna, metodologias inclusivas que questionem extrativismos epistêmicos, bem como a formulação de questões abertas e a construção de objetos tradicionalmente considerados ilegítimos para a pesquisa acadêmica.
Por isso, a revista propõe consolidar duas linguagens centrais: uma que compõe a "Seção Acadêmica", na qual pretendemos discutir algumas das questões aqui levantadas a partir do formato de artigos de pesquisa, e a "Seção de linguagens constituintes", onde são convidadas contribuições curtas com outras mídias visuais e sonoras, poemas, ensaios e o espectro das sensibilidades artísticas em geral para abordar a partir de suas matrizes narrativas os eixos que cada número propõe. Uma terça seção convida a resenhas de livros, teses e eventos.
Eixos temáticos
- Património e memórias: tensões, iluminações, dissonâncias
- Extrativismos contemporâneos: territórios de pilhagem e linguagens de sobrevivência
- Feminismos e campo patrimonial: corpos, violência, dissidência.
- Ontologias vernáculas: natureza, cultura(s) e críticas às dissecações modernas
- Patrimônio, territorialidade, paisagens: entre turistificação, reserva e extração.
- Patrimônio cultural e significado: murmúrio social e histórias silenciadas.
- Patrimônio e complexo expositivo: museus, exposições e disputas modernas/coloniais.
- Desenhos globais e narrativas situadas: heranças entre a “humanidade” e a “comunidade”.
- Patrimônio e colonialidade: vestígios modernos entre a ruína e a ruína.
- Metodologias críticas: extração, horizontalidade, colaboração e coautoria.
- Patrimônio, Estado, comunidades: regulamentações, restituições, rituais e formas de gestão.
- As linguagens do patrimônio: disciplinas, narrativas indisciplinadas e poder.
- Arquivo e arquivamento: línguas, mídia, autoridade.