Tendo em conta as imbricações contemporâneas em torno dos feminismos e dos extrativismos, este dossiê (número inaugural de Memorias Dissidentes) propõe-se aprofundar os diferentes usos, dimensões e compreensões de ambos conceitos nas lutas das últimas duas décadas no sul de Abya Yala. O extrativismo e o neoextrativismo não podem ser reduzidos à presença de projetos extrativistas (como a mineração em grande escala ou a exploração de hidrocarbonetos); por isso é necessário especificar a crítica sul-americana que esses conceitos propõem em sua íntima ligação com os movimentos sociais. Numa perspectiva feminista antiextrativista, antirracista e antipatriarcal afirmamos que os extrativismos também constituem colonizações ontológicas que tornam possíveis a desapropriação e a violência intrínsecas à dinâmica contemporânea em que se reproduz o patriarcado-capitalismo-neocolonialismo-moderno-ocidental. Seguindo este espírito, nesta edição apelamos a diferentes contribuições de autoras feministas, diaspóricas e queer, activistas académicas, defensoras indígenas e territoriais, membros de comunidades e organizações indígenas, colectivos e redes feministas migrantes, ecofeministas e anti-extractivistas, que partilham valiosas reflexões teóricas e experiências de luta contínuas.

 

Publicado: 2023-12-30